Tive câncer. Meu filho também terá?
Muita calma nessa hora!
Com relação as questões familiares e o câncer são duas as principais perguntas que a gente ouve no consultório:
“Tive câncer, minha filha ou meu filho também vai ter?”. E “ah, doutora, eu não tenho histórico de câncer na minha família, não preciso me preocupar, não é mesmo?”.
Nem uma coisa, nem outra!! Pra surpresa de boa parte das pessoas, apenas 5 a 10% dos casos de tumores têm alguma relação com a nossa genética, ou seja, podem ser passados dos pais para os filhos. Portanto, 90 a 95% das pessoas que desenvolvem algum câncer não tem relação nenhuma com a genética. Mas quem tem alguma alteração genética pode ter o risco aumentado de desenvolver um câncer de mama em até 80 a 85% ao longo da vida, dependendo da mutação e da idade. Peraí que eu vou explicar melhor.
Lembram da Angelina Jolie? Ela fez um estudo alguns anos atrás que dizia que ela tinha uma alteração genética. Uma alteração no DNA dela, nos cromossomos, num gene chamado BRCA1, que aumentava o risco em desenvolver câncer de mama (e de ovário também). É isso que estou me referindo. Vocês podem estar se perguntando como fazer pra saber se têm essa alteração. Primeiro, que não são exames indicados pra todo mundo. Em geral, pessoas com histórico familiar muito significativo de câncer (como a Angelina!), pacientes que desenvolveram câncer em idade muito jovem, homens com câncer de mama por exemplo, e uma avaliação com o médico geneticista pode ser bem importante pra saber se você precisa fazer algum teste e qual fazer.
Bem, se a maioria dos casos de câncer de mama não ocorre por influência do histórico familiar, pra onde devemos voltar as nossas preocupações? Existe uma pequena lista pra gente falar. Quando pensamos em fatores de risco do câncer de mama, é importante dividir em dois grupos: os não modificáveis e os modificáveis.
Os não modificáveis, o próprio nome já diz, não podemos fazer nada pra alterar: o fato de sermos mulheres, a idade, nosso histórico familiar, a densidade do tecido mamário, idade da primeira menstruação e da menopausa.
Já os fatores modificáveis, é aí que está a grande diferença, e onde podemos realmente agir. Eles são relacionados ao estilo de vida: consumo de álcool, obesidade (principalmente após a menopausa), sedentarismo, uso de reposição hormonal pós-menopausa, alimentação inadequada… E a gente sabe muito bem que a somatória desses fatores é o que colabora para que o câncer se desenvolva, não é mesmo?
Cada vez mais as pesquisas trazem pra gente que o câncer pode ser prevenido, com as mudanças de estilo de vida. Mudanças que não vão só controlar sua pressão, seu colesterol, seu peso, sua glicemia. Também vão diminuir o risco de câncer em cerca de 30% e isso é muito! Adotar um estilo de vida saudável pode sim, realmente, salvar a sua vida.
E respondendo as duas perguntas lá do começo do texto:
“Tive câncer, minha filha ou meu filho também vai ter?”. Não necessariamente. Do ponto de vista genético, 5 a 10% dos cânceres de mama estão neste risco. Cuide dos hábitos de vida del@ desde pequenininh@.
E “ah, doutora, eu não tenho histórico de câncer na minha família, não preciso me preocupar, não é mesmo?”. Precisa. Precisa se preocupar com um monte de coisas. Em fazer sua rotina de exames todos os anos. Em cuidar de seus hábitos alimentares, de exercício, de saúde física, mental e espiritual. Cuide de você.
Comments (2)
Adorei a explicação!!!. Tenho uma filha de 14 anos e vamos nos cuidar ainda mais ! Obrigada
Obrigada Marcela!