Voluntariado – uma história de amor

Ser voluntário não é coisa nova pra mim. Na verdade, nem sei desde quando eu estou sempre envolvida com alguma coisa pra ajudar o próximo na vida. Na minha família sempre foi assim. Mesmo que não fossem ações organizadas, ou instituições propriamente ditas, seu Olimpio, meu avô, tinha um instinto de ajudar o próximo que vocês nem imaginam. Precisava dele, tava ele lá. E isso não é ser voluntário pra alguma coisa ou por alguém? Cresci vendo minha mãe entrar em conselho de pais em colégio, fazer festa pra arrecadar fundos pra determinadas coisas, ajudando em ações diversas na empresa em que trabalhava, até organizar os happy-hours dos funcionários temáticos eu me lembro. Isso tudo era voluntariamente. Quando minha mãe descobriu o câncer, não haviam tantas entidades (ou pelo menos a gente não sabia de tantas) disseminadas por aí. Me lembro bem da ABOS em Sorocaba que na época já era bem atuante, e continua. Aprendemos nessa época a colaborar com doações para a ABOS, e fazemos isso até hoje. Talvez por tudo que vi, de exemplos de solidariedade na minha família, talvez por tudo que vivi com essas pessoas, é que nunca "consegui" (ainda bem!) me desligar do voluntariado na vida. Estudei num colégio católico quase a vida toda, e sempre tinham ações de doação, eventos solidários, e eu tava lá. Na faculdade, aquelas coisas de ir ao asilo com o professor de clínica médica, sabe, que todo mundo reclama, eu adorava. Durante a residência, as coisas são mais difíceis de serem feitas por falta de tempo, mas eu acredito hoje, olhando pra trás que a própria residência médica como foi a minha é uma doação imensa. Quem fez residência como eu fiz, ou fez comigo sabe do que eu estou falando. Hospital público, periferia da cidade, hora pra entrar sem hora pra sair. Entrega, estudo, lágrimas, satisfação imensa em fazer o que se ama. 5 anos assim. Depois disso, muito vocês já sabem. Fui voluntária por alguns anos na Liga Sorocabana de Combate ao Câncer, que existe em Sorocaba há mais de 40 anos. Há quase 4 anos, começou um projeto chamado Pense Pink. Na verdade, a Pense Pink representaria uma forma de educação em saúde para pacientes oncológicos e familiares, e pra todo mundo que deseje um conteúdo confiável na Oncologia. Mas o voluntariado nos chamou. Hoje a Pense Pink é uma Associação, faz parte do Movimento Todos Juntos Contra o Câncer e além da informação e do conteúdo on-line, temos os nossos seminários, lives e tudo isso que vocês vêem por aí, e eu, e meus amigos Gabriela Filgueiras Sales e Max Strasser aprontamos. A Pense Pink também é a responsável por coordenar ações de doação para a Maple Tree Cancer Alliance Brasil . Ah, a Maple! História pra um post sozinho!!! No site da Maple tem um post no blog contando um pouquinho como tudo começou, e qualquer dia conto por aqui... mas é mais uma doação na minha vida. Um propósito de vida de todo nosso time envolvido. Mudar vidas através da atividade física e da qualidade de vida, depois do diagnóstico do câncer. Um propósito, um desafio imenso, uma responsabilidade gigante. E ainda tem nossos queridos Amigos Solidários, não é mesmo? Um bando de doidos amigos corredores ou não que se juntam pra fazer ações, arrecadações e tudo mais que alguém ou algum grupo precisar. Precisando, estamos correndo atrás!!! Se vocês recorrerem ao dicionário, irão encontrar na definição de voluntário "aquele que se compromete com um trabalho, ou assume a responsabilidade de uma tarefa, sem ter a obrigação de o fazer; indivíduo que se alista espontaneamente num exército, ou que se encarrega de uma incumbência a qual não estava obrigado". Resumindo, ser voluntário é fazer aquilo que você nem tem obrigação de fazer, mas faz com o coração, por amor ao próximo, a vida, ao ser humano, a uma causa que você escolhe e nem sabe muito bem o porquê. Mas, as vezes, um dia, descobre. Ser voluntário é agir sem olhar a quem, sem pensar em você, nem se aquilo vai trazer algo pra você, é só se entregar de corpo, alma e coração ao seu semelhante. É sim uma grande história de amor, que sempre vai trazer finais felizes a quem se dedica de verdade.  

Tive câncer. Meu filho também terá?

Muita calma nessa hora! Com relação as questões familiares e o câncer são duas as principais perguntas que a gente ouve no consultório: "Tive câncer, minha filha ou meu filho também vai ter?". E "ah, doutora, eu não tenho histórico de câncer na minha família, não preciso me preocupar, não é mesmo?". Nem uma coisa, nem outra!! Pra surpresa de boa parte das pessoas, apenas 5 a 10% dos casos de tumores têm alguma relação com a nossa genética, ou seja, podem ser passados dos pais para os filhos. Portanto, 90 a 95% das pessoas que desenvolvem algum câncer não tem relação nenhuma com a genética. Mas quem tem alguma alteração genética pode ter o risco aumentado de desenvolver um câncer de mama em até 80 a 85% ao longo da vida, dependendo da mutação e da idade. Peraí que eu vou explicar melhor. Lembram da Angelina Jolie? Ela fez um estudo alguns anos atrás que dizia que ela tinha uma alteração genética. Uma alteração no DNA dela, nos cromossomos, num gene chamado BRCA1, que aumentava o risco em desenvolver câncer de mama (e de ovário também). É isso que estou me referindo. Vocês podem estar se perguntando como fazer pra saber se têm essa alteração. Primeiro, que não são exames indicados pra todo mundo. Em geral, pessoas com histórico familiar muito significativo de câncer (como a Angelina!), pacientes que desenvolveram câncer em idade muito jovem, homens com câncer de mama por exemplo, e uma avaliação com o médico geneticista pode ser bem importante pra saber se você precisa fazer algum teste e qual fazer. Bem, se a maioria dos casos de câncer de mama não ocorre por influência do histórico familiar, pra onde devemos voltar as nossas preocupações? Existe uma pequena lista pra gente falar. Quando pensamos em fatores de risco do câncer de mama, é importante dividir em dois grupos: os não modificáveis e os modificáveis. Os não modificáveis, o próprio nome já diz, não podemos fazer nada pra alterar: o fato de sermos mulheres, a idade, nosso histórico familiar, a densidade do tecido mamário, idade da primeira menstruação e da menopausa. Já os fatores modificáveis, é aí que está a grande diferença, e onde podemos realmente agir. Eles são relacionados ao estilo de vida: consumo de álcool, obesidade (principalmente após a menopausa), sedentarismo, uso de reposição hormonal pós-menopausa, alimentação inadequada... E a gente sabe muito bem que a somatória desses fatores é o que colabora para que o câncer se desenvolva, não é mesmo? Cada vez mais as pesquisas trazem pra gente que o câncer pode ser prevenido, com as mudanças de estilo de vida. Mudanças que não vão só controlar sua pressão, seu colesterol, seu peso, sua glicemia. Também vão diminuir o risco de câncer em cerca de 30% e isso é muito! Adotar um estilo de vida saudável pode sim, realmente, salvar a sua vida. E respondendo as duas perguntas lá do começo do texto: "Tive câncer, minha filha ou meu filho também vai ter?". Não necessariamente. Do ponto de vista genético, 5 a 10% dos cânceres de mama estão neste risco. Cuide dos hábitos de vida del@ desde pequenininh@. E "ah, doutora, eu não tenho histórico de câncer na minha família, não preciso me preocupar, não é mesmo?". Precisa. Precisa se preocupar com um monte de coisas. Em fazer sua rotina de exames todos os anos. Em cuidar de seus hábitos alimentares, de exercício, de saúde física, mental e espiritual. Cuide de você.
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