Dia Nacional de Combate ao Câncer de Mama – o que podemos melhorar?

Dia 29 de Abril é o dia Nacional de Combate ao Câncer de Mama, uma data pouco conhecida e pouco comentada, até mesmo na mídia. Afinal, já são tantas outras datas em menção ao combate ao câncer, e temos um mês todo pra falar do câncer de mama, o Outubro Rosa... e será que é o suficiente? Eu particulamente acredito que nunca será demais falar sobre o combate ao câncer de mama, e em especial, sobre a prevenção do câncer de mama. Afinal, é o câncer mais frequente entre as mulheres, e o que mais causa morte entre as mulheres no Brasil. Nossa estimativa, segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA), para 2020, é de quase 66 mil casos novos, com 16 mil óbitos pela doença. Um absurdo, né? A data foi instituída a partir de 2008, com a Lei 11.664/2008, que determina, entre outras coisas, a realização de exames mamográficos gratuitamente para mulheres a partir dos 40 anos (QUARENTA, OK?) através do Sistema Único de Saúde . A idéia é conscientizar e alertar a população feminina para a importância da realização dos exames periódicos de rotina, e para a detecção precoce do câncer de mama, visando melhores resultados de tratamento e maiores índices de cura e sobrevida. Acredito que nos últimos anos a conscientização sobre o câncer, não só o de mama, mas a grande maioria, vem melhorando bastante. As pessoas têm procurado conhecer melhor seu corpo, buscado exames preventivos, mas ainda falta (muito!) melhorar seus hábitos de vida não só como prevenção mas como tratamento também. Afinal, mesmo quem está passando ou passou pela doença precisa entender que o câncer têm implicações pela obesidade, pelo sedentarismo, pela má alimentação. Além disso, cabe a nós, como cidadãos, entender e apoiar o que está acontecendo no mundo lá fora nas questões relacionadas ao câncer e seus direitos. Existem pessoas e grupos que se dedicam a isso, e movimentam reuniões, consultas públicas, abaixo-assinados, onde nós, pessoas comuns, podemos e devemos apoiar. Se a sociedade civil organizada não apoiar e se manifestar, não conseguiremos melhorar o atendimento de saúde, e em especial o oncológico, e isso é essencial. Em que ponto estamos hoje sobre algumas leis relativas ao câncer de mama?
  • Lei da Reconstrução Mamária: no sistema privado é tranquilo falar sobre isso... geralmente não temos problemas para conseguir a reconstrução mamária, tanto imediata quanto tardia. As vezes, entraves burocráticos sobre material, tempo para liberação, que isso pode acontecer, mas são em geral de fácil resolução. Mas e no SUS? Infelizmente, apenas 20% das mais de 90 mil mulheres que fizeram mastectomia (retirada total da glândula mamária) para tratamento do câncer de mama, entre os anos de 2008 e 2015 realizaram o procedimento de reconstrução mamária. Faltam serviços disponíveis, há problemas no SUS com licitação de materiais, e por aí vai... A primeira lei no SUS que dispõe sobre a reconstrução mamária data de 1999, porém não obrigava a ser imediata, sendo a primeira lei de reconstrução imediata de abril de 2013. A partir de 2018, a lei n° 13.770 garantiu também os procedimentos de simetrização e reconstrução do complexo aréolo-mamilar, isto é, todas as mulheres que realizaram cirurgia por câncer de mama têm também o direito de fazer a cirurgia reparadora das mamas com simetrização.
  • Lei dos 60 dias: esta lei NÃO é exclusiva do câncer de mama, mas se aplica a qualquer paciente com diagnóstico de neoplasia maligna. Ela estabelece que o primeiro tratamento oncológico no SUS deve se iniciar no prazo máximo de 60 dias a partir da assinatura do laudo patológico (laudo de biópsia) ou em prazo menor, conforme necessidade do caso. Preciso falar mais? Pesquisa da Fundação Laço Rosa mostra que o tempo médio das pacientes só entre consulta e diagnóstico é de 4 meses. Dados do Observatório de Oncologia também mostram que a gente precisa melhorar muito.
  • Lei dos 30 dias para o diagnóstico do câncer: relativa ao PL275/2015, a Lei 13.896/2019 estabelece que os exames necessários para a confirmação de diagnóstico de câncer sejam realizados no SUS em prazo máximo de 30 dias. A lei foi sancionada em 31 de outubro de 2019 pelo presidente da república em exercício, Antônio Hamilton Mourão, e no último dia 28 de abril de 2020 completaríamos os 180 dias para a regulamentação e funcionamento na prática. Estamos no aguardo!
Acredito que nos últimos anos a gente tenha melhorado muuuuito na conscientização sobre o câncer de mama, campanhas, mídia etc... Ainda falta muito! No Observatório de Oncologia, temos um panorama do câncer de mama no país dos últimos anos, dos serviços existentes e dos tratamentos no SUS, pesquisa realizada pelo nosso Grupo de Trabalho de Câncer Feminino do Movimento Todos Juntos Contra o Câncer. Confiram lá, que está super completo! Beijos  

Vacinas Importantes para a Mulher

O Brasil tem um dos programas vacinais mais abrangentes e completos do mundo. Dados mais recentes mostram cerca de 67 milhões de pessoas vacinadas, em todas as faixas etárias, sejam adultos, crianças ou gestantes, além dos chamados grupos especiais. Atualmente o Sistema Único de Saúde oferece diversos tipos de vacinas, atendendo as recomendadas pela Organização Mundial da Saúde. Outras vacinas, ainda não incorporadas ao SUS, também estão disponíveis no Brasil, no sistema privado. É comum que não haja preocupação entre as mulheres adultas com a vacinação, tanto por preocupações relacionadas com a segurança desta intervenção, quanto por pensarmos somente nas vacinações dos nossos filhos. As vacinas existentes são totalmente seguras, e cabe a nós, médicos, também educarmos os adultos da necessidade de se manter o calendário vacinal em dia. No caso das mulheres, geralmente a ação educativa ficará a cargo d@ ginecologista, ajudando assim a mulher numa rotina saudável, e se for de desejo, cuidados perinatais de menor risco também. Nas mulheres, o período da gravidez merece atenção especial, pois a transmissão perinatal pode representar uma via de transmissão importante para algumas doenças, podendo causar sequelas e até mesmo óbito neonatal. Muitas destas condições são passíveis de prevenção através da imunização prévia, protegendo mãe e bebê.  Além da proteção da transferência de anticorpos via placentária, também pode conferir proteção através da amamentação, posteriormente. Confiram algumas vacinas dicas que devemos estar atentas:
  • HPV: na rede pública, está disponível para meninas dos 9 aos 14 anos, em duas doses com intervalo de 6 meses. A Federação Brasileira das Associações de Ginecologia (FEBRASGO) e a Sociedade Brasileira de Imunizações recomendam a vacinação dos 9 aos 45 anos e a critério médico mesmo fora desta faixa etária. O SUS também realiza a vacinação até os 26 anos em pacientes HIV +, transplantados de órgaõs sólidos e de medula óssea, e em pacientes oncológicos, mediante prescrição médica.
A partir dos 10 anos de idade, dependendo do histórico vacinal anterior, pode haver necessidade também:
  • Meningogócica C (protege contra a meningite e suas complicações), indicada dos 11 aos 14 anos.
  • Hepatite B: indicada se esquema vacinal desconhecido ou incompleto, inclusive na gestação.
  • Febre Amarela: em dose única, se não foi vacinada.
  • Tríplice Viral (Sarampo, Caxumba e Rubéola): principalmente se esquema incompleto na infância.
  • Dupla Adulto (Difteria e Tétano): reforço a cada 10 anos, inclusive na gestação.
Todas as mulheres entre 20 e 59 anos, devem estar atentas as vacinas de Hepatite B, febre amarela, dupla adulto e tríplice viral. Após 60 anos:
  • Influenza (gripe): no período de campanha anual de vacinação. Gestantes, pacientes oncológicas (desde que autorizadas pel@ médic@) e aquelas que estão em grupos especiais também devem receber esta vacina.
  • Atentar também para as vacinas que falei no grupo dos 20 aos 59 anos.
Confiram também o calendário vacinal para 2020, conforme recomendação da Sociedade Brasileira de Imunizações (exceto para gestantes):  

Exercício & COVID-19

O exercício pode não ser a preocupação principal pra muita gente nesse momento da pandemia. Mas você sabia que a atividade física pode ser uma ferramenta valiosa para auxiliar a controlar as infecções por COVID-19 e manter a qualidade de vida? A atividade física ajuda a prevenir e tratar muitas condições de saúde, não só física mas também mental, melhorando o funcionamento de vários sistemas fisiológicos. E nesse momento do Coronavirus, existem algumas particularidades. Primeiro, a atividade física tem o potencial de reduzir a gravidade das infecções por COVID-19. Isso pelo que acontece nos pulmões durante uma infecção. O sistema imunológico detecta o invasor do vírus nos pulmões e o ataca, e esse conflito cria inflamação. Essa inflamação causa danos ao tecido pulmonar que interferem na respiração e podem se tornar graves o suficiente para exigir intervenções, como a intubação e o uso de ventilação mecânica. Como isso pode ser importante em relação a atividade física? Quando você está ativo, os músculos produzem substâncias que melhoram o funcionamento do sistema imunológico e reduzem a inflamação. Assim, a atividade física fortalece dois processos biológicos que reagem à infecção. Sabemos disto pois os efeitos do exercício sobre a imunidade, inflamação e infecções respiratórias virais estão bem documentados, apesar de não terem sido documentados em pacientes com COVID-19. Como os músculos representam cerca de 30-40% do peso corporal, eles podem ser aliados no combate ao impacto da infecção, mas apenas quando os músculos estão sendo usados. Vale ressaltar que a atividade física de intensidade moderada, como caminhar, por exemplo, tem o melhor impacto, mas exercícios vigorosos, como correr uma maratona, reduzem temporariamente a imunidade. O aumento da atividade física para reduzir o número de pessoas infectadas que necessitem de hospitalização pode ajudar a reduzir a sobrecarga dos sistemas de saúde. Segundo, a atividade física é eficaz para prevenir e tratar doenças crônicas, como cardiopatias, diabetes e diversos tipos de câncer, os quais aumentam o risco de doenças graves e morte entre os infectados pelo coronavírus. Embora a atividade física seja amplamente recomendada pelas autoridades de saúde, os esforços para promover mudanças do estilo de vida em geral são mínimos. Faz mais sentido ainda incentivar as pessoas, especialmente aquelas com condições crônicas, a serem moderadamente ativas antes de serem infectadas, de modo a reduzir a gravidade da doença caso ocorra a infecção. Como a atividade física tem efeitos imediatos na imunidade e na inflamação, da mesma maneira que tomar um medicamento diariamente, as pessoas podem reduzir o risco de infecções virais graves e o risco de várias doenças crônicas, simplesmente fazendo uma caminhada diária. Nunca é tarde demais para que as pessoas se beneficiem da realização de atividade física moderada. Terceiro, os sintomas de estresse aumentarão. Pela pandemia, pela ameaça à saúde, por questões econômicas, perda de emprego, renda, pelo próprio isolamento. Ser fisicamente ativo tem importantes benefícios à saúde mental e incentivar as pessoas a serem ativas pode ajudar muitos a lidar com as questões emocionais também. A atividade física reduz os sintomas de depressão e ansiedade, portanto, pode funcionar como um antídoto ao estresse da pandemia. Pode funcionar para alguns como uma terapia. A atividade física mais comum é a caminhada, que é gratuita, acessível para a maioria das pessoas de todas as idades e em geral consegue manter o distanciamento social. Quarto, a resposta do corpo ao estresse psicológico cria desequilíbrios entre o cortisol e outros hormônios que afetam negativamente o sistema imunológico e a inflamação. Equilibrar os níveis de cortisol significa beneficiar o sistema imunológico e a resposta a inflamação. As estratégias mais eficazes para melhorar o equilíbrio do cortisol são controle do estresse, por práticas diversas, como a meditação por exemplo, e a atividade física. Pessoas mais idosas alteram fisiologicamente o cortisol, e têm o sistema imunológico mais fraco, então nessa população, considerada de alto risco para a COVID-19, a atividade física pode ser particularmente importante. As ações mais importantes agora, pensando na pandemia, são reduzir a disseminação do coronavírus através do distanciamento social, lavagem frequente das mãos e evitar tocar no rosto. No entanto, devido aos seus múltiplos benefícios, a atividade física não deve ser deixada de lado. Ser ativo é importante. As pessoas precisam conhecer as ações que podem tomar para ajudar a reduzir o risco de infecções graves e reações estressantes à pandemia. Pessoas sedentárias apresentam risco maior de doenças relacionadas a inatividade, e questiona-se o impacto da atividade física regular na gravidade da doença entre infectados pelo coronavírus. Há muitas evidências, em estudos com demais quadros infecciosos e avaliando sistema imunológico, que a atividade física moderada poderia contribuir para reduzir a gravidade da doença por COVID-19 e melhorar a qualidade de vida antes e após a infecção. Faltam estudos específicos em pacientes com COVID-19, até por ser um quadro recente. Sejamos, no entanto, prudentes. Devemos encorajar a prática de atividade sempre, e neste momento da pandemia não seria diferente. Na medida do possível, o que você puder fazer em casa, faça. O fechamento de parques, academias e praias dificulta a atividade das pessoas. Pode ser necessário um monitoramento dos locais ao ar livre para garantir que as pessoas mantenham um distanciamento social seguro. Segundo o Informe 4 da Sociedade Brasileira de Medicina e Esporte, a recomendação é que em localidades onde não haja proibição legal decretada por autoridade competente, a melhor recomendação é a realização individual da prática de atividade física e, de preferência, isoladamente, sempre evitando aglomerações e com o maior distanciamento social possível. Muita gente nem imagina o potencial que o exercício tem de ajudar o sistema imunológico, em doses corretas, e sem exageros. Qualquer tipo de atividade moderada agradável, dentro ou fora de casa, é excelente para mente e corpo. Ir para uma caminhada ao ar livre pode ser um ponto alto do dia para milhões de pessoas, e pode nos ajudar a superar essa pandemia, preservando o máximo de qualidade de vida possível. Sem aglomerações. De preferência, sozinh@. De resto, se puder, fique em casa.

Bem-vind@s!

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